repouso

Ao investigar possíveis relações entre imagem e matéria, penso que a impermanência de uma “imagem congelada” pode ser associada ao seu estado físico e modo de apresentação, pois o referente das imagens fotografadas poderá estar relacionado com alguns modos de conduta social, nos quais a tradição, muitas vezes, estabelece uma fixação no modo de pensar e agir. Entretanto, tudo que nos rodeia encontra-se num estado de impermanência, seja este definido pelo estado físico das coisas ou associado a um conceito que lhe é atribuído. Pensando dessa maneira, iniciei algumas experiências nas quais imagens de origem fotográfica foram impressas sobre papel de arroz e inseridas em formas sólidas aquosas, objetos construídos com água e imagem.

No trabalho “Repouso”, a ação de congelar abre possibilidades para discutir a relação entre a palavra, os materiais e a imagem. O trabalho tem em seu princípio técnico e conceitual, uma dupla congelação, pois uma imagem fotográfica pode ser interpretada como sendo o congelamento de um instante, fixado sobre papel, por exemplo. Enquanto isso, o processo físico-químico no qual substâncias líquidas passam do estado líquido ao sólido, também denominado congelamento, fixa uma determinada quantidade da substância líquida numa forma definida, pois a velocidade das suas moléculas é reduzida até gerar um objeto sólido.

Ao mesmo tempo que uma matéria guarda ou protege uma imagem, pode também transformá-la ou até mesmo destruí-la. São alterações pertinentes às ações físicas, químicas, ou mesmo derivações simbólicas e semânticas que apontam para um horizonte desconhecido. Quando coloco em contato materiais que dialogam com uma visualidade fluida, proponho a criação de um “campo de batalha” entre os materiais. Neste sentido, as condições de apresentação e as imagens produzidas no espaço corroboram para ações intra-estruturais presentes na intimidade da obra.

Ao propor “adormecer” a imagem numa forma aquática congelada, procurei ali criar um sistema até então desconhecido para mim, água, fotografia e tecido. Decidi pela impressão fotográfica sobre papel de arroz, pois esta apresentaria características físicas e químicas necessárias para atuar junto ao gelo e almofada de algodão. Cada peça foi construída seguindo três etapas: seleção das imagens do meu arquivo fotográfico pessoal, congelamento parcial do objeto-água, fixação da imagem na superfície congelada, seguida de sobreposição de água para completar o volume da forma, congelamento total da peça e desenforme sobre as almofadas.

Os elementos escolhidos para compor a instalação mantém relações físicas e conotativas com o estado de dormência, o sono, o sonho e as imagens imaginadas. Com isso, Desejo discutir os resíduos de imagens que permanecem em nossa memória, após um dia de atividades ou mesmo uma noite de sonhos, uma poética instaurada na congelação de realidades presentes em nosso cotidiano.

Neste trabalho, o encontro entre imagens e materiais configura uma poética relacional e simbólica, onde o elemento surpresa convive com o devir das formas e imagens. A reestruturação visual constitui a peça fundamental na percepção desta obra, além disso, o tempo é um elemento imprescindível para seu desenvolvimento. Nesta série, as imagens residuais, após sua descongelação, efeito inverso do congelamento, tais imagens não apresentam a definição fotográfica, mas uma outra imagem, desconhecida.

Ao experimentar procedimentos que tornam a imagem fotográfica um “lugar” instável para fixação do real, demonstrando seu estado frágil e vulnerável quando confrontado a outras realidades físicas, proponho discutir o sentido de acumular os “traços” do real, ou viver num sonho de constantes metamorfoses. É na performance dos materiais que os agentes físicos e químicos, encontrados na intimidade da obra, são capazes de construir uma poética espontânea nas mutações de uma imagem in process.

rest

As I investigate possible relationships between image and matter, I think the impermanence of a "frozen image" can be associated to your physical condition and form of presentation, as the referent of the photographed images may be related to some forms of social behavior, in which tradition, many tmes, establishes a fixation in the way of thinking and acting. However, everything around us is in a state of impermanence, be it defined by the physical state of affairs or associated with a concept attributed to it. With this thought, I started some experiments in which images from photography were printed on rice paper and inserted in aqueous solid forms, objects constructed with water and image.

In this piece, the action of freezing opens possibilities to discuss the relationship between the word, the materials and the image. The work takes in its technical and conceptual principle, a double freezing, because a photographic image can be interpreted as the freezing of a moment, fixed on paper. Meanwhile, the physical-chemical process in which liquid substances go from a liquid state to a solid one, also called freezing, fixates a certain amount of the liquid substance in a defined form, because the speed of its molecules is reduced ending up to generate a solid object.

At the same time that a matter can keep or protect an image, you can also transform it or even destroy it. They are alterartions proper to physical, chemical actions, or even symbolic and semantic derivations that point to an unknown horizon. When I put in contact materials that dialogue with a fluid visuality, I propose the creation of a "battlefield" between the materials. In this sense, the conditions of presentation and the images produced in the space corroborate to intra-structural actions present in the intimacy of the piece.

As I proposed to "sleep", an image in a frozen aquatic form, I have aimed to create a system hitherto unknown for me. Water, photography and fabric.Thus I decided for the photographic print on rice paper, as this would present physical and chemical characteristics necessary to interact with the ice and cotton pad. Each piece was built following three stages: selection of images from my personal photo archive, partial freezing of the object-water, image fixation on the frozen surface, followed of superposing of water to complete the volume of the shape, complete freezing of the piece and displaying onto the pads.

The elements chosen to compose the installation keeps physical and connotative relations with the sleep state, dream and imagined images. With that, I wish to discuss the residues of images that remain in our memory, after a day of activities or even a night of dreams, a poetic established in freezing of present realities in our daily lives.

In this work, the encounter between images and materials constitutes a relational and symbolic poetic, where the element of surprise lives along with the becoming of forms and images. Visual restructuring is the cornerstone in the perception of the piece, moreover, time is an essential element in its development. In this series, after-images after unfrozen - , reverse effect of freezing - such images do not show the photographic definition, but another image, an unknown one.

Along the experimenting the procedures that turn the photographic image into an unstable "place" for structuring the real, demonstrating its fragile and vulnerable state when faced with other physical realities, I propose to discuss the need of accumulating the "traces" of the real, or to live in a dream of constant metamorphosis. It is in the performance of the materials that the physical and chemical agents, found in the intimacy of the piece, are able to build a spontaneous poetic in the mutations of image in process.