baía, bahia dia a dia de todos os santos

Em 2003, decidi realizar um projeto onde, diariamente, faria uma foto da janela do meu apartamento. A proposta baseava-se no uso de uma câmera fotográfica descartável posicionada num ponto fixo, tendo como enquadramento a janela do apartamento e como fundo a Baía de Todos os Santos. O ato fotográfico acontecia nas primeiras horas da manhã, sendo construído com meu primeiro olhar sobre essa paisagem. Ao observar, diariamente, a imagem da Baía de Todos os Santos, espaço geográfico e simbólico da história do Brasil, o trabalho se estendeu por todo o ano de 2003.

“Baía, Bahia dia a dia de Todos os Santos” é um trabalho que constrói uma relação com o tempo, a espacialidade de um lugar e uma realidade social atribuídos a este espaço geográfico. As imagens produzidas não permanecem estáveis, elas foram acondicionadas em pequenos aquários de vidro hermeticamente fechados contendo água do mar, construindo, dessa maneira, um jogo onde estabeleço o contato direto entre a fotografia produzida e a água do mar que, neste caso, é um dos elementos formadores da imagem.

Em cada pequeno aquário foi adicionada quantidade equivalente de água do mar correspondente ao volume até alcançar a linha do horizonte existente em cada imagem fotográfica, sendo imediatamente lacrada. Foram confeccionadas ao todo 365 pequenas caixas de vidro medindo 11 x 16 x 2,5 cm, para conter em cada uma delas a imagem ampliada com tamanho 10 x 15 cm. A instalação consiste em justapor os trezentos e sessenta e cinco “aquários”, número correspondente à quantidade de dias existente naquele ano, contendo a fotografia e água do mar da baía, fixados na parede do museu. As “caixas-aquários” foram hermeticamente fechadas para não permitir a dispersão da água, mantendo um ciclo de evaporação e condensação junto às imagens.

Em alguns dias, não foram feitos registros fotográficos, pois eu não estava presente no lugar “registro-rito”, derivando então um vazio presente no conjunto de fotos daquele ano. Porém a água da Baía continuava a existir. Decidi, então, que as “caixas-aquários” referentes a esses dias ficaram preenchidas somente com a água do mar.

Após a conclusão da instalação, iniciou-se então, a “metamorfose” das imagens fotográficas contidas em cada “caixa de memória”. O processo de evaporação e condensação, acompanhado pela variação da temperatura no ambiente, parecia aproximar-se do fenômeno ocorrido no espaço natural da Baía, formadores de nuvens e precipitações em forma de chuva. Assim também, podemos acompanhar a migração da água pelo processo de capilaridade, promovendo uma variação das imagens surgidas a cada dia, donde formas, cores e fenômenos encontram-se unidos em seus espaços específicos, correspondendo a uma obra que está em constante devir de imagens, imagens in process. Desse modo, o conteúdo presente nas caixas de vidro funciona como um ringue, onde a imagem e a matéria que lhe deu origem se encontram dando origem a uma “luta” pela permanência, onde não confirmamos vencedores nem perdedores, e sim uma interação entre ambos.

bay, bahia day to day of all saints

In 2003, I decided to undertake a project where every day would make a photofrom my apartment window. The proposal was based on the use of a disposable camera positioned at a fixed point, framing the background of the apartment window and in the background the Bay of All Saints. The photographic act happened in the early hours of the morning and built as I first looked at this landscape each day. As I observed daily, the image of the Bay of All Saints, geographical and symbolic space in Brazil's history, the work happened throughout the monts of 2003.

"Bay, Bahia day to day of All Saints" is a work that builds a relationship with time, the spatiality of a place and a social reality attributed to this geographical space. The images produced do not remain stable, they were placed in small hermetically sealed glass water tanks containing seawater, constructing in this way, a game where I establish direct contact between the photo produced and the seawater, which in this case is a one of the elements that form the image.

In each small aquarium it was added an equivalent amount of water from the sea in the corresponding volume to reach the line of the existing horizon in each photographic image, and immediately sealed. 365 small glass boxes measuring 11 x 16 x 2.5 cm were built in order to contain large image with size 10 x 15 cm. The installation consists of juxtaposing the three hundred sixty-five "aquariums" a number corresponding to the amount of days that year, containing the photograph and water bay sea, set in the wall of the museum. The "boxes-tanks" were hermetically sealed as to not allow the dispersion of the water while maintaining a cycle of evaporation and condensation to the images.

During some days there were not made photographic records, because I was not present at the place "record-rite", then deriving a void in this set of photos of that year. But the water of the bay continued to exist. I decided then that the "boxes-tanks" as regards these days were simply fulfilled with seawater.

After the installation is complete, it began, the "metamorphosis" of the photographic images contained in each "memory box" . The process of evaporation and condensation, followed by the change of temperature in the room to seemed to approach the phenomena occurred in the environment of Bahia, clouds formations and precipitation of rain. Also, it was possible to follow the migration of water by capillarity process, promoting a variation of the images that arose each and every day, where shapes, colors and phenomena are united in their specific spaces, corresponding to a work that is constantly becoming of pictures, images in process. Thus, the present content in glass cases acts as a ring, where the image and the matter formed from that image gave rise to a "struggle" for permanence where no winners or losers were confirmed, but an interaction between them.